Cuidado com os fogos de Artifícios

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Cãotinho Literário

PULGAS



Maria de Lourdes secorun Inácio             

Pulgas se agarram nos animais dos quais sugam o sangue como um naúfrago num pedaço de madeira. Fica difícil removê-las. Às vezes os pelos são arrancados juntos para que se possa tirá-la do animal.

Enfim, lavar um animal com pulga exige esforço, concentração, boa visão e unhas relativamente compridas para poder arrancá-las de sua fonte de alimento.

As toalhas com que são secos os animais se transformam nos pelos e elas novamente se fixam com todas as forças, ou melhor, garras?

Esse fato desencadeou lembranças de um passado adormecido.

Muito criança ficava a observar as mulheres que lavavam roupas à beira de um córrego. Um córrego de águas límpidas, cheio de lambaris que costumávamos pescar com as mãos e o menorzinho deles deveria ser engolido vivo caso quiséssemos aprender a nadar.

Pobres lambaris.

Engoli muitos na inocente crença da infância.

A profundidade do córrego ia ao máximo até o joelho das crianças que tinham quase o mesmo tamanho. Nós dizíamos que iríamos ao “corguinho” assim nossas mães não se preocupavam porque sempre haveria uma ou outra mãe com sua bacia de roupas sujas, o sabão feito em casa a lavar as roupas nas águas do córrego.

Molhavam, colocavam na tábua de lavar roupa, ensaboavam, esfregavam, enxaguavam. A operação se repetia o equivalente à sujeira da roupa. Depois eram colocadas em bacias enquanto outra peça era molhada, ensaboada e assim repetidas vezes até a bacia com roupas sujas se esvaziar.

Observar essas mulheres efetuando esta tarefa era um dos meus passatempos quando à beira do córrego, ou sentada na parte mais alta do barranco que descia até as lavadeiras coberto por uma grama verde na qual muitas vezes descíamos rolando até cair na água.

Nunca entendi porque em determinada parte do processo de lavar as roupas, de repente elas eram surradas contra a tábua. Umas mais levemente, outras com muita força e repetidas vezes.

Porque batiam as peças?

Nunca perguntei a minha mãe.

Também nunca lavei roupa a beira do córrego. Só engoli lambaris, tomei banho nas águas límpidas, persegui cardumes de peixinhos, tomei banho com sabão para me livrar da coceira depois de rolar grama abaixo.

Quando me coube essa tarefa as máquinas de lavar faziam todo o trabalho.

Hoje, depois de correr água por sobre a toalha, esfregar com a escova, tentar arrancar com a unha as pulgas agarradas às felpas, num acesso de ira repeti aquele ato: surrei a toalha, bati contra o tanque, me molhei toda e as pulgas começaram a se soltar.

Não aprendi nadar engolindo peixinhos.

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"Não comer carne significa muito mais para mim que uma simples defesa do meu organismo; é um gesto simbólico da minha vontade de viver em harmonia com a natureza. O homem precisa de um novo tipo de relação com a natureza, uma relação que seja de integração em vez de domínio, uma relação de pertencer a ela em vez de possuí-la. Não comer carne simboliza respeito à vida universal." Pierre Weil
"A questão não é a de saber se o animal pode pensar, raciocinar ou falar... a questão é: Eles podem sofrer?” Jeremy Bentham
 
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