Cuidado com os fogos de Artifícios

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cãotinho Literário

Hormônios


Maria de Lourdes Secorun Inácio
Integrante do Projeto Amigo Bicho


Passeios ao entardecer são benéficos à saúde. Passear com seus cães é duplamente benéfico - para você e para seus cães.

Passear com seus cães ao entardecer pela Rua Moron pode tornar-se um problema.

A Lara é uma cadela desdentada, um pouco surda, com visão própria da idade, de porte grande, caminha um pouco desequilibrada por causa da labirintite.

A Happy, o nome já diz, é feliz. Porte pequeno, agradece aos carinhos efusivamente.

Passeávamos pela Moron. A Moron é uma rua movimentada. Muitos estudantes enfeitam-na à tarde com seus sorrisos. Tem calçadas largas e um fluxo de carros que às vezes causa congestionamento.

Um imprevisto acontece, cachorros são imprevisíveis. Quando querem ir ao banheiro não levantam a patinha para pedir licença, é ali onde estão que se abaixam e nos deixam com a incubência de recolher suas fezes.

O cartaz que elaborei e distribuo na cidade diz isso: Recolha as fezes do seu cão. Já me perguntaram o que significava fezes. Alguém que achou a palavra bonita e a incorporou ao seu vocabulário. Serviu para ajudar alguém, ao menos um, penso eu.

Nesta hora o saquinho amarrado na guia mostra o porquê de ali estar.

Mas a Happy havia fugido e na pressa o saquinho ficou. Grita-se socorro, a sacola vem correndo. Não tão rápido a ponto de evitar um constrangimento.

Uma senhora intolerante, caminhando auxiliada por uma bengala se põe a gritar:

-Eu tenho direitos, tire esses bichos daqui, eu tenho direitos!

-Você tem direito de morrer, sua infeliz! Grito de volta.

Diz ela:

- E esse cocô no chão? Hein?

-Vou recolher porque não sou relaxada como você!

Maldita hora para fazer coco, Lara! Penso eu.

Ao que me abaixo para limpar a calçada, ouço de um casal de velhinhos:

-Se todos tomassem essa atitude seria tão bom caminhar pelas ruas.

Pronto, estou recompensada. E ganhei por dois a um.

Sigo em frente. Passeios são duplamente benéficos. E depois, não tinha muita gente na rua nesse horário, poucas pessoas ouviram os gritos.

Mas será que minha dosagem hormonal está correta? Tenho que ir ao endocrinologista, acho que está na hora de um novo exame.

Outro dia, outro passeio. A Lara fica. Não por castigo, o dente está causando desconforto, ela prefere ficar em sua cama.

A Happy e eu seguimos pela Moron. Vamos, conversamos, voltamos.

No ponto mais movimentado da Moron, sou abordada por uma senhora- dizem que ela é maluca- que me pergunta:

- Sabe que a Moron está fedendo?

E eu:

- Não por quê?

-Por causa destes malditos cachorros que fazem coco e xixi pelas ruas, diz ela.

-Não a minha, repondo e exibo meu saquinho amarrado na guia.

Vocês já viram um surto psicótico? Creio que presenciei um. A maluca se pos a gritar:

- A cadela dela está com a ..... costurada!

E ria como uma bruxa em seu dia de praticar maldades. E repetia aos gritos, repetia, repetia e,... eu voltei.

São os hormônios.

-Maldita velha infeliz, você incomoda a todos nesta rua. Vou te surrar e não vai ter ninguém para te socorrer porque você merece apanhar.

Alguém toma hormônios para a tiróide? Eles são perigosos.

Segurei a guia da Happy na mão esquerda, a direita é muito forte, posso derrubá-la com um soco no meio do nariz, melhor na boca assim ela ficará calada por mais tempo.

E a rua estava congestionada de pessoas e carros. E eu perseguindo a maluca (não sei qual das duas no momento era pior).

Até que senti uma mão que me segurou pelo braço e gentilmente disse:

- Não faça isso, ela não é má pessoa. Passa dos limites de vez em quando, mas é gente boa.

Ao que respondi:

-Ela precisa apanhar, seu prazer é incomodar as pessoas, hoje ela vai apanhar!

E o senhor:

- Calma, não vale a pena, vamos caminhar.

E eu fui caminhar ao lado do senhor que me abordou porque foi muito calmo, em especial quando aos berros eu perguntei:

-Porque o senhor a defende, por acaso é advogado dela?

E ele:

- Já fui, não sou mais.

Malditos hormônios!!!

Conversamos, não me acalmei, mas ao chegar ao meu destino paramos e o senhor quis saber quem eu era, o que fazia, se era filha de fulana, irmã de sicrano, aquela formalidade de apresentação.

Passada a ira, eu disse:

- Essa infeliz pode me provocar da forma que quiser, ela arranca as plantas do meu jardim, briga quando saio da garagem e estou à espera para entrar na rua, é indelicada no restaurante, mas mexer com meus bichos, isso não.

Ao que ele me responde:

- Ah, foi por causa do cachorro? Isto também eu não admito!!!

Não agredi a maluca, mas conheci uma pessoa que ama e protege os animais e impediu-me de aparecer na coluna policial dos jornais do dia seguinte.

São pessoas que caem na nossa vida nos momentos certos e nos ajudam a não fazer tolices. Quer dizer, tolices maiores do que fazemos normalmente.

Conheço uma pessoa que me ensina dia a dia que o amor pelos animais é incondicional e que com muita freqüência se envolve em confusões semelhantes. Converso muito com ela, tento acalmá-la e fazer ver que não é este o caminho.

Sou uma pacifista convicta.

Mas sou um ser em domesticação. Quando as amarras do bom senso são soltas “a outra” que mora comigo, transforma-se em fera. Há muito tempo a “outra” estava sob controle.

Será que são meus hormônios? Ou será que minhas conversas com minha amiga estão surtindo efeito contrário?

Diabinha, se meus hormônios estiverem na dosagem normal...



A Respeito dos Hormônios da Dna Maria de Lourdes:

Neste momento de memorável leitura, me veio à memória a lembrança

de meu curso de radialista, no qual gravamos, como radionovela, um dos

contos de meu colega e amigo Daniel:"La Cucaratcha".

Este fato descrito, assemelha-se em muito ao nosso conto, uma

maneira extremamente culta e bem educada de resumir uma tremenda baixaria com

quase um episódio de violência (o que no nosso caso, chegou as vias

de fato, lembra?)...calma! O nosso era interpretação vocal/teatral de uma

mente criativa!

Bem, não poderia comentar esta leitura sem o mínimo de sutileza e boa

escrita, assim espero!

Salve-se quem puder: O salto da D.Maria de Lourdes quebrou e ela

obrigou-se a descer das tamancas! saia da baiana saiu do armário e

pôs-se à rodar!

Eita nóis!!!! Não estamos perdidas "gaivotinha", todo mundo tem um pé na senzala!!!

P.S. Não sou só eu que saio implicando com “veias”...lembra daquela dos

butiás na frente do cemitério? Ainda bem que ela não me xingou...Diga pra a

Lourdes que não são os hormônios, são as conversas com a diabinha mesmo,

afinal em março os exames também apontaram tudo ok com os meus!!!!

Eheheheheheheheheh!!!!!!!!!!!!!!

Esta a gente perdeu!!!!!!!!!!!!!!!

Passa para ela!!Com minhas condolências...sim ela entrou para o nosso time

com tudo, agora!!

BJKAS PRA VCS!!

Cristiane Tauffer.

Colaboradora e eventual comparsa da gaivotinha nas barbáries efetuadas nos sábados á tarde, próximo à cemitérios matos e afins, em prol do Projeto Amigo Bicho!...Ou não!

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"Não comer carne significa muito mais para mim que uma simples defesa do meu organismo; é um gesto simbólico da minha vontade de viver em harmonia com a natureza. O homem precisa de um novo tipo de relação com a natureza, uma relação que seja de integração em vez de domínio, uma relação de pertencer a ela em vez de possuí-la. Não comer carne simboliza respeito à vida universal." Pierre Weil
"A questão não é a de saber se o animal pode pensar, raciocinar ou falar... a questão é: Eles podem sofrer?” Jeremy Bentham
 
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